26/07/2008

Vácuo

Não escrevo nada. A página permanece branca, somente os ligeiros e quase imperceptíveis sulcos preenchem o granulado papel. Está vazia. Estou vazia.

Vejo o ponteiro do relógio avançar a passos largos e cá dentro o bicho começa a despertar, corrói-me o interior e sobe-me pela garganta. A folha continua branca. Olho as outras folhas, compressas em pilhas sombreadas pelas esbletas letras, nada me ocorre, a pressão sobe, tenho que criar, sinto a vontade de criar, tenho de superar. Agora a mente funciona a todo o vapor, penso, penso, penso, não páro de pensar. Inocentemente questiono-me «O que se passa?» Mas são só questões, nada flui, nada brota.


Começa a paranóia, o desespero vai rastejando, matreiro, infiltrando-se, platando a semente da frustração. Pergunto-me, com um travo de culpa, porque não peguei na caneta quando as palavras me jorravam dos lábios e me transpiravam do corpo em pingos grossos. Porque menosprezei eu as palavras?


O meu corpo estremece, frenético, desesperado, um grito acutilante rompe-me os ouvidos, bloqueia-me os pensamentos, e nada sai, tudo permanece por escrever. A folha continua vazia, esgotaram-se as palavras

2 comentários:

Ana Luísa Pereira disse...

Se é preciso que se esgotem as palavras para voltares a deixar neste espaço as tuas marcas, então que se escondam todas.

Athena disse...

Existem sensações, momentos que simplesmente não se podem exprimir em palavras mas felizmente, neste caso, o vazio não é uma delas...