01/06/2007

O velho matinal, não distinguido agora do negrume poeirento

O Nu corre pela fenda húmida, rugosa e bolorenta, velha de rugas amareladas. Era a doce lágrima do que restara, do que o tempo tinha deixado ficar. Ar frio e luz poeirenta, nada mais. Chão retificado, campo de concentração de nojentas ratazanas, cheiro fétido. A morte avançava lentamente, o bolor consumia, cheirava até ao fim as réstias de sangue. Pés fugiam das tábuas como de pregos, só memórias pairavam. Velho pó, teias, pontas amareladas de sorrisos sufocados captados por lentes e pólvora. Saxofone calado. Concertina engatilhada, os dedos estavam mortos, teclas de telhados serviam a pobres formigas, protegendo-se da toxina que se ia espalhando pelas frechas, como particulas que se dissolviam no mar. Morfina doce era o assassino. Assassino? Não. O tempo o era. Quem o matou. A morfina só ajudou. Fez a dor desaparecer. Agora era a droga que ia matando os fantasmas e as formigas e os ratos de vidros estilhaçados. Era ela e o frio. A memória e o tempo.

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