04/06/2007

Nas palavras me liberto da monotomia




É o escape que me leva, cortando o ar, para lugares inéditos e vidas inventadas. Inventa-me falas e sentimentos e máscaras e vida. E é a combinação dos momentos que a vida não traz com o som do dia a dia. E cada vez mais este mundo vai-me absorvendo. Ele e as suas personagens, que também sou eu. A realidade fica para trás e mudo-me com o vento, perdendo aos poucos a noção de quem sou (era?). Os borrões de tinta vão caindo na folha suaves, levando parte de mim com eles. Restando pouco nesta capa que chamam de corpo. O corpo já não me chega para guardar(-me). Transcende-me e passa para as folhas, o ar, a tinta, as paredes, as outras pessoas. Já não sei viver sem ser mais alguém, todas as noites, um bocadinho. No papel. Na cabeça. Na música. Já há diálogos dentro de mim que parecem querer gritar e rasgar a pele morna, quebrando as entranhas, dando murros nas paredes ensaguentadas, desesperados por sair. Todos querem um pedaço de mim. Todos eles querem Ser. Todos eles querem mostrar a (minha) insanidade contida neste corpo vazio. Lutam e gritam e choram e riem e usam e manipulam. E alguém me acorda do transe em que entro, o da imaginação, aquele em que eu sou o que quiser, aquele em que me refugio, aquele em que o idealismo ganha vida, o transe que vai tomando conta de mim, cada vez mais.


Fotografia de Cyril Berthault Jacquier

Um comentário:

Anônimo disse...

É essa imginação e "insanidade", cmo dzs, q adro em ti, ests textos.