20/05/2007

Trazes-me um mundo novo e um copo de água, se faz favor?

As folhas batiam com um pau na sua alma, como se de cadáver se tratasse, implorando por mais uma dose desse doce vicio que tinham. Queriam mais uma injecção de borrões, da afiada ponta cinzenta a empurrar o liquido preto na superfície rugosa e absorvente. Mas a alma recusava-se a abrir espaço para as palavras, ela achava que quem não tinha propósito não tinha motivo para conjurar hipérboles e metáforas numa dança angelical, e cada vez mais se fechava numa redoma sem vida, onde a inspiração murchava pela falta de ar. E as letras iam-se apagando, como se uma leve brisa fosse passando e levando um bocadinho delas de cada vez, até ficar só o papel, viciado e miserável, desistindo de esperar que ela voltasse a acordar do transe em que a inércia a tinha posto.

Um comentário:

Leaven disse...

Quem te lia e quem te lê...